domingo, 1 de fevereiro de 2015

Efeitos do uso de smartphones sobre a atenção

        

Nossos equipamentos digitais tem facilitado muito a vida cotidiana. Poupam-nos tempo, possibilitam comunicação com pessoas distantes, orientam nosso caminho em localidades desconhecidas, trazem informação e ajudam a nos entreter. Somos apaixonados por eles e nos deliciamos saltando de um aplicativo a outro com muita agilidade.

No entanto, apesar de todas as utilidades e poder de sedução, muitos de nós temos a desconfortável impressão de que tais eficientes brinquedos eletrônicos poderiam estar prejudicando a nossa capacidade de concentração. Segundo o neurocientista Daniel Willingham, as pesquisas indicam que nossa impressão está errada. Em um artigo publicado no The New York Times (“Smartphones don’t make us dumb”), Willingham  afirma que nossa capacidade de focar se mantém preservada. O que a tecnologia moderna poderia estar comprometendo é o nosso desejo para focar.

A ideia de que os eletrônicos poderiam danificar nossa atenção parece bastante lógica. Adolescentes costumam passar inúmeras horas diante das telas eletrônicas alternando freneticamente seu foco de atenção entre dois, quatro, oito ou mais aplicativos simultaneamente. A teoria de muitos seria de que devido à plasticidade cerebral, esta rápida atividade mental se converteria em hábito, tornando-nos cada vez mais inábeis   para sustentar nossa atenção.



No entanto, existe pouca evidência de que nossa capacidade de prestar atenção esteja diminuindo. Os neurocientistas diferenciam duas modalidades de atenção: uma se refere   à quantidade de informação que podemos reter na memória e a outra à nossa habilidade para manter o foco. Estas capacidades são testadas de formas diferentes. Para medir a primeira, os pesquisadores pedem para as pessoas repetirem sequências de dígitos gradativamente mais longas em uma ordem inversa. Para testar a segunda, pedem ao sujeito para monitorar determinados estímulos visuais que receberão ocasionais e sutis modificações. Daniel Willingham afirma que a performance nestes testes hoje se parece muito com as de 50 anos atrás.



Se nossa atenção não está diminuindo, por que temos a sensação de que está? Por que em uma pesquisa realizada em 2012 (http://www.pewinternet.org/2012/11/01/how-teens- do-research-in-the-digital-world),  90% dos professores afirmaram que os alunos da atualidade não conseguem mais se concentrar como faziam há poucos anos?



A resposta a estas questões é simples. O mundo digital carrega consigo a promessa de entretenimento constante, imediato e infinito. Se o vídeo no Youtube não está divertido nos primeiros 10 segundos de apresentação, por que continuar assistindo se posso instantaneamente procurar algo mais atrativo? Assim, ainda que a internet não tenha comprometido nossa capacidade de concentração, ela parece ter implantado uma ideia fixa em nossas mentes: “Será que não haveria algo melhor para fazer”? 

Segundo Willingham, estudos recentes mostram que apesar de nossas antenas estarem sempre ligadas, a performance em testes de atenção piora se um simples celular estiver meramente visível (http://psycnet.apa.org/index.cfm?fa=buy.optionToBuy&id=2014-52302-001). Outro experimento com simuladores de trânsito (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/ 22871271) mostrou que as pessoas eram significativamente mais propensas a atropelar um pedestre ou exceder a velocidade quando escutavam um celular tocando, mesmo que eles tivessem planejado previamente para não fazê-lo. 

As previsões apocalípticas de que nossos smartphones seriam poderosas armas de bolso para danificar nossas mentes podem estar equivocadas. Contudo, o apetite insaciável por entretenimento constante sugere que as atividades mais complexas serão colocadas de lado. Tudo indica que as pessoas continuarão a adquirir os grandes clássicos da literatura, mas correm o risco de deixá-los de lado para conferir as últimas atualizações do Instagram.


Cristiane Marx Flor - Psicóloga, MSc.

Fonte: Daniel Willingham, “Smartphones don’t make us dumb” http://www.nytimes.com/2015/01/21/opinion/smartphones-dont-make-us-dumb.html?_r=0





















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